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Braga é um portista acidental

Quando assinou por duas épocas pelo Leixões, Braga pensava que tinha concretizado o maior sonho da sua vida. Mas o seu subconsciente estava enganado. Faltava-lhe o melhor de todos, o impensável, o inimaginável e derradeiro impulso que o ligaria eternamente à história de um clube que, em quase 101 anos de existência, nunca estivera na liderança do campeonato principal. O destino foi duro, porém, num instante colocou Braga no mapa das celebridades do futebol, colocando-o sob os holofotes dos anónimos transeuntes que o felicitaram - alguns depois de alguns murmúrios de desconforto -, durante o passeio de ontem com a reportagem d'O JOGO pelo jardim da Arca d´Água, no Porto.
Neste espaço de lazer, o médio-ofensivo (como tantos outros adolescentes) recordou os primeiros beijos às namoradas e a diversão nos carrocéis da festa popular nas noites quentes de Agosto. De repente parou, distanciando olhar para fazer um sentido desabafo: "Nem nos meus melhores sonhos, sonhei que um dia iria marcar dois golos ao FC Porto, colocando o Leixões na liderança". Pois é, agora está feito, Braga pregou uma partida precisamente ao clube que em tempos o fez "saltar muitas vezes de alegria". "Já fui mais portista; não sou de me chatear com o que acontece ao FC Porto. As minhas cores, agora, são outras", disse, aproveitando para fazer uma correcção: "Fui eu, e não o Bruno China, que fez a assistência para o golo mal anulado de Zé Manel". Ou seja, Braga esteve nos quatro golos com que o Leixões desfeiteou a baliza de Nuno Espírito Santo.
Para todos os efeitos, o médio-ofensivo que veio do Leça, da II Divisão, é um bom exemplo de que "há muitos Bragas nos escalões secundários com mais talento do que muitos estrangeiros" que desfilam pelos grande palcos nacionais.

Botas apanharam o vício dos golos
"Grandes golaços. Parabéns!", atirou um indivíduo que fez Braga olhar para trás, tentando reconhecer a voz. "Não sei quem é...", reagiu Braga, espantado com a popularidade instantânea, graças ao sucesso de dois tiros certeiros com as botas do novo patrocinador, que ontem lhe comunicou o aumento da oferta de peças de roupa para mostrar nas entrevistas. Braga estreou, no Dragão, as chuteiras da Umbro com as quais andou a ensaiar toda a semana. "Bati muitas bolas para preparar os pés, acho que apanharam o vício dos golos e deram-me sorte no jogo", comentou com sentido de humor e satisfeito com o negócio.

Maradona do Bom Pastor
Há anos que Braga não entrava no rinque do bairro do Bom Pastor, onde cresceu e tomou o gosto pelo futebol. O JOGO desafiou-o a visitar o cenário dos sonhos de menino, que incentivaram o pai Manuel a inscrever os dois filhos mais novos, o Bruno e o Francisco, nas escolinhas do FC Porto. Os gémeos falsos acabaram por seguir carreiras diferentes. O Bruno tornou-se na mais recente estrela do Leixões e o Kiko um especialista em Artes Gráficas. Os antigos vizinhos no Bom Pastor lembram-se dos dois irmãos, mas é Braga que retém a atenção de velhos colegas da futebolada no rinque por onde passou também o ex-benfiquista Petit e Miguel Pedro, da Académica.
Braga respirou fundo, sorriu e entrou no recinto observado da janela pelo Agostinho que lhe gritou: "Braga, portaste-te bem, ainda vais para o Porto. Espera aí que tenho uma surpresa", anunciou eufórico Agostinho, que guardou carinhosamante um recorte de jornal com a história do "Maradona do Leça" num jogo contra o Marítimo B. Braga marcara um golo de antologia à maneira do 'el pibe' que Agostinho, na adolescência, contou Braga, sabia imitar.

A Mónica é a morena
Afinal, Braga tem dois amores... Uma é redonda e a outra é morena. Uma dá golos e a outra...beijinhos. Uma chama-se 'europass' e a outra Mónica, esta mais bonita, mais carinhosa e promete ser para toda a vida. O namoro dura há seis meses, mas o amor continua no ar, ao ponto de sugerir a Braga a vontade em juntar os trapinhos para ambos deixarem de vez a casa os pais. "Não tive antes a possibilidade de comprar casa. Como as coisas estão a melhorar; agora que estou com 25 anos acho que é o momento de tratar do assunto juntamente com a Mónica", disse, sem, contudo, avançar com a data de casamento.
A técnica de Turismo que encantou os olhos de Braga ainda não tinha diluído os nervos da noite anterior envolvida numa assistência, num restaurante em Leça, maioritariamente portista - como ela, aliás. "Sou apenas simpatizante, mas agora torço pelo Leixões", reconheceu, ainda agitada pelas "muitas mensagens recebidas". "Até parecia que tinha sido eu a marcar os golos", comentou, feliz pela recompensa oferecida pela vida ao namorado. "Ele merece, é um lutador humilde e trabalhou muito por este momento", disse Mónica, relembrando que "já é tempo de ele deixar de roer as unhas, pois faz mal ao estômago".

Mensagem do Miguel
Miguel Pedro, amigo de infância e dos tempos da rivalidade entre o Bairro do Carvalhido e do Bom Pastor deixou uma mensagem especial a Braga: "Tu mereces o melhor, amigo! Estás a ser o melhor jogador da Liga Sagres". Miguel Pedro sabe do que fala, porque ainda se lembra que Braga "já marcava muitos golos no rinque, mas ficava lá à frente à espera para meter a bola, enquanto os outros corriam mais do que ele".
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1 desabafos :

Miguel Barros disse...

Excelente peça jornalística. Muito bem elaborada. Fala daquele que para mim tem sido a grande revelação desta Liga Sagres, um jogador que pelo que vi, e se continuar a trabalhar da forma humilde como parece ter vindo a fazer, vai ter um futuro muito risonho no futebol.

Parabéns Braga não só pelos dois golos no Dragão mas por todo o trabalho que tens vindo a fazer ao longo destes últimos meses com a mítica camisola do LSC.

Como apaixonado do futebol fico contente por constatar que o futuro do futebol português está bem entregue. Felizmente há muitos Bragas espalhados por ai, nas 2as divisões B, nas 3as, e até mesmo nos regionais. Pena é que a maior parte dos nossos dirigentes sejam incompetentes e continuem a trazer contentores de jogadores de qualidade duvidosa da América do Sul (em particular).

Felizmente o LSC é uma das raras excepções neste cenário de imcompetência. É um clube que aposta na prata da casa: MUITO BEM. Parabéns... continuem assim.

Os jovens do nosso país são o nosso futuro, seja no futebol ou noutra área profissional qualquer. o importante é darem-lhes oportunidades... e verão que eles são tão bons ou melhores (na maior parte dos casos) do que o que vem de fora.

Jovens como o Braga são a prova que em termos de futebol o país está bem servido e não precisa de Liedsons, Decos, ou Pepes para sobreviver (falo em termos de selecção, calro está...)