José Mota chegou, viu e está a vencer. Depois da derrota com o Nacional, na primeira jornada, o treinador leixonense mudou o “chip”, colocando a equipa a jogar em 4x4x2 losango. Foi o clique para um início de época de sonho e que ainda não se sabe verdadeiramente onde vai parar. Depois de Paços de Ferreira, onde deixou a sua marca em nove épocas de muito sucesso, e uma experiência mal sucedida no Santa Clara, o técnico, de 44 anos, está a viver, em Matosinhos, o melhor momento da sua carreira. “Gosto de ser líder”, diz, radiante.
- A liderança continua a assustá-lo?
- Percebo bem a pergunta e faz todo o sentido fazê-la, mas a verdade é que estamos a viver um momento único e sinto que este grupo tem lidado bem com a situação. Estamos em primeiro lugar, sabemos que não o vamos manter até ao fim, mas queremos mantê-lo o maior tempo possível, é bom que se diga isso. Acontece que, desde que chegámos a este patamar, a equipa tem-se mantido coesa, sem facilitar, o que poderia acontecer em grupos mentalmente menos fortes.
- Mas esta equipa tem estofo para lidar com a pressão que começa a existir? É que, neste momento, todos os olhos estão colocados no Leixões…
- Os jogadores têm de saber usufruir este momento, porque são momentos únicos que estamos a viver na carreira. Agora, temos de viver de uma forma pensada, sensata e penso que é isso que tem acontecido.
- E tanto mediatismo não o preocupa?
- Não, por uma razão muito simples, porque isto tem sido uma sequência de jogos. No jogo com o Benfica, os jogadores compreenderam que têm condições para bater o pé a qualquer equipa. A partir daí, foi a sequência de jogos com FC Porto e Sporting, mas também percebo que esta equipa está mais vocacionada para jogar com equipas que assumem o jogo, porque tem um bom preenchimento ao nível do espaço e sabe sair a jogar de forma organizada. Percebo que contra esses adversários a equipa sente-se mais confortável, mas, de qualquer forma, temos de ter soluções quando defrontamos adversários mais fechados.
- Antes do campeonato começar, se lhe dissessem que, à 9.ª jornada, teria 22 pontos, tendo já defrontado FC Porto, Benfica e Sporting, qual seria a sua reacção?
- Sou uma pessoa positiva, sempre fui e encaro jogos com a intenção de vencer. Agora, ser líder à nona jornada, tendo já defrontado os três candidatos mais o Braga, que tem uma excelente equipa, também me causa alguma surpresa.
- E a qualidade de jogo?
- [Determinado] Esse é um aspecto que temos de realçar. Neste momento, tenho falado com muitas pessoas e há um consenso generalizado que o Leixões é líder com muito mérito. O reconhecimento dos adversários ainda sabe melhor. Desde o começo da época, não tivemos um jogo que tivéssemos vencido porque a estrelinha teve connosco ou porque aconteceram lances duvidosos. O Leixões venceu os jogos com muito mérito.
- Garantida a manutenção, pode fazer aqui o que conseguiu no Paços de Ferreira e levar o clube à UEFA?
- O Paços de Ferreira teve, de facto, uma estabilidade muito grande a nível financeiro, mas nunca conseguiu dar aquele salto qualitativo, chegar junto daquelas cinco/seis equipas de maior no futebol português por uma razão muito simples: não tem massa adepta. Aqui, no Leixões, é um pouco diferente. Tem gente, massa adepta, que gosta de estar perto. Primeiro, o clube deve afirmar-se ao nível da estabilidade na Liga para, posteriormente, ter ambições. Sei que as pessoas estão a fazer um esforço grande, o presidente Carlos Oliveira e Vítor Oliveira são muito importantes nesta organização e há que continuar a trabalhar.
- Após o jogo de Vila do Conde, admitiu renovar objectivos…
- Sim, admito. Para já, o objectivo é manutenção, mas se conseguirmos atingir isso é normal que queiramos sempre mais. Por isso, no Natal, vamos ver se podemos lutar por outros objectivos. Sou um homem ambicioso e não consigo lutar por pouco. Gosto de ser líder. Foi assim que aconteceu há duas épocas no Paços de Ferreira. Depois da manutenção, objectivo direccionou-se para a Taça UEFA e… foi lindo. Foi um objectivo que valorizou clube, atletas e corpo técnico.
- O que já fez esta época no Leixões faz com que se apague de vez a ideia que só conseguia ter resultados no Paços de Ferreira?
- Essa é uma falsa questão. Difícil é trabalhar no Paços de Ferreira e no Leixões. Para organizar este plantel, houve muito trabalho, o Vítor Oliveira foi incansável, trabalhámos muito na pré-época para termos este plantel e isto é trabalho, arte, engenho e virtude que as pessoas tiveram para conseguir isto. Também por isso é que vários destes atletas vieram com campeonato a decorrer.
- As três últimas aquisições, o Roberto Sousa, Laranjeiro e Wesley, equilibraram muito a equipa…
- Sim, vieram equilibrar, são três jogadores que estão a jogar, que nos deram solução para ter um onze mais forte. - Perdendo jogadores no mercado de Janeiro, tem gente no plantel para lançar?- Tenho um bom plantel. Há aqui jogadores que me têm surpreendido, caso do Braga. Quando se constrói um plantel, pensamos ter um leque de primeiras opções, alguns para trabalhar e outros para ver qual o seu comportamento. A verdade é que quando começamos a trabalhar todos me surpreenderam, nomeadamente, o Braga e Paulo Tavares, pela positiva, e começaram a ser opção. Desde o primeiro jogo, foram opções, e também é isto que me dá um certo gozo.
- Está preparado para perder o Wesley e Bruno China?
- Estou preparado para perder um ou outro. Tenho jogadores que ainda não deram o seu contributo e que são opções válidas, casos do Chumbinho, Serginho Baiano, Roberto, jogadores que conheço muito bem. E ainda há o Brandon, Paulo Tavares, Castanheira, jogadores que estão a recuperar e têm sido importantes pelo seu entusiasmo e conduta profissional.
- O Chumbinho pode substituir o Wesley?
- É um jogador diferente, que não chega tanto à área, não é para finalizar com objectividade do Wesley, é mais um atleta para criar desequilíbrios. Mas penso que os dois se podem complementar e jogar na mesma equipa.
- Também tem prémio da equipa ter atingido os 21 pontos?
- Não quero falar disso. O meu maior gozo é ver a equipa com qualidade e a ganhar jogos. As pessoas, muitas vezes, interpretam mal as coisas e os meus jogadores não ganham assim tanto. Fala-se que os jogadores ganham muito dinheiro, mas não é bem assim. Não vejo nenhum jogador rico que tenha jogado no Leixões ou no Paços de Ferreira. Gosto de falar de futebol, não de questões financeiras.
- Se lhe apresentassem a renovação do contrato, aceitava de imediato?
- Teria de avaliar a situação. Estou muito bem neste clube, conheço bem as pessoas e fico muito grato por ter sido a primeira escolha do Vítor Oliveira. Gosto de estar cá, mas primeiro é preciso haver um convite e só depois é que poderia decidir.
- Custou-lhe muito estar calado antes do jogo com o Sporting, por estar castigado?
- Não. E sabe porquê? Porque estávamos a ganhar e quando ganhamos prefiro que sejam os jogadores a falar. São os principais obreiros deste êxito, embora, naturalmente, exista uma grande estrutura por trás que faz a máquina funcionar. “Segredo é a semana de trabalho”
- Toda a gente quer saber o segredo do Leixões… existe algum?
- Não há segredos para as vitórias, os segredos foram feitos em nossa casa desde o primeiro dia do trabalho. Não jogámos em Alvalade diferente do que jogámos no Dragão ou do que fizemos com o Benfica e Braga. Este trabalho é feito por muita gente, não gosto de individualizar. O segredo é a semana de trabalho.
- Tem saltado à vista a boa condição física da equipa. O jogo acaba e os atletas parecem preparados para mais 90 minutos…
- É sinal que o trabalho desenvolvido é bom e que a aplicação dos atletas tem sido extraordinária, porque as duas coisas têm de estar interligadas. Se não estiverem não vale a pena. Estamos a dar aos jogadores aquilo que eles gostam e a aplicação têm tido fantástica e isso transmite-se ao nível do jogo.
- Segue-se a Naval…
- Vamos preparar o jogo diante de mais um adversário difícil. Isto é novo para todos nós, não só no clube mas também nos atletas e na equipa técnica. Mas a humildade está aí e não vejo este grupo em bicos de pés.
- Tem-se divertido?
- [Sorriso] Estou a divertir-me muito. Durante a minha carreira, habituei-me desde cedo a ganhar. Logo no meu primeiro ano de treinador, fui campeão na Liga de Honra. O que mais detesto na vida é perder. Perder faz-me muito mal, deixa-me quase doente.Duelo com o Benfica, agora na Taça
“Sonho com a final”
José Mota tem uma grande ambição na carreira: chegar ao Jamor para disputar a final da Taça de Portugal. “É um marco na carreira de qualquer treinador. Já estive perto de lá chegar, quando joguei uma meia-final ao serviço do Paços de Ferreira contra o Leiria. Perdemos já nos descontos e, por isso, nunca me irei esquecer desse jogo. A Taça é também um objectivo. Vamos defrontar o Benfica e queremos seguir em frente, embora o adversário seja favorito. Mas ainda há tempo para pensar nisso”. O jogo, a contar para os oitavos-de-final da Taça, está marcado para o próximo dia 14 de Dezembro.
fonte: MH
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