É uma das ementas da Taça de Portugal: proporcionar sensações únicas, sobretudo aos mais pequenos. Foi o que aconteceu no domingo, no Espinho-Leixões, onde Fábio Espinho defrontou Carlitos, avançado dos tigres que também trabalha no restaurante do qual o 10 matosinhense é proprietário juntamente com alguns familiares. Quis o destino que fossem eles os autores dos três golos do jogo, numa premonição dos dois jogadores.
"Quando saiu o sorteio, fiquei particularmente feliz porque era a oportunidade de defrontar um clube que me diz muito, e tanto eu como ele dissemos que íamos marcar, e isso acabou mesmo por acontecer", conta Fábio Espinho, que jura não ter pensado em despedir Carlitos, caso este eliminasse o Leixões. "Isso nunca me passou pela cabeça!", ri-se o médio-ofensivo, preferindo enveredar por um tom mais cordial. "Conhecemo-nos desde crianças, sempre nos demos bem e brincámos muito juntos, mas no campo cada um puxa para o seu lado", explica aquele que foi a figura do jogo.
Fábio Espinho, a quem muitos já chamaram de traidor, por brincadeira, é claro, bisou e colocou o Leixões a vencer por 2-0, resultado que passou a verificar-se aos 54 minutos. Carlitos entrou logo a seguir e, numa das primeiras intervenções, ficou a centímetros de atingir as pernas do patrão. Mas sem ponta de maldade. "Eu ia para lhe tirar a bola, mas quando cheguei ela já não estava lá", recorda o número 10 do Espinho, que viria a "desobedecer a hierarquia, relançando o jogo aos 67 minutos. Os tigres ganharam aí uma réstia de esperança, que não passaria disso, pois o Leixões acabaria por segurar a vitória (2-1) e confirmar a passagem à próxima eliminatória. Ontem, os dois jogadores lá se reencontram à hora do almoço, no Espinho 10, sem provocações. "Demos os parabéns um ao outro", diz Carlitos. "Parecia que tudo o que tínhamos falado antes, no restaurante, antes do jogo, tinha acontecido na realidade", revela Fábio Espinho.
Os tigres ficaram pelo caminho, mas Carlitos cumpriu um sonho. "Não é todos os dias que se marca ao Leixões e para um jogador como eu, que não sou profissional, foi muito bom, pois acalentou-me a esperança de um dia poder chegar a profissional", revela o avançado dos tigres, que na época passada esteve perto de cometer uma proeza ainda maior, quando, também na Taça, defrontou o Benfica, ao serviço do Monsanto, e tentou fazer um chapéu a Moreira. "Já viram se a bola entrava?", pergunta, incrédulo, recordando uma partida em que os encarnados golearam por 6-0.
Os sentimentos de Fábio, no domingo, foram diferentes, mas igualmente marcantes. "Foi um momento de grande felicidade, pois estava a precisar de marcar para moralizar, apesar de terem sido os dois golos que mais me custaram na carreira. Foi um jogo que vai ficar para sempre na minha memória", admite Fábio, que não festejou os golos por "respeito" aos adeptos e a um clube em que passou "três épocas espectaculares".
Por agora, os dois jovens, de 25 anos, ambos de Espinho, trabalham para atingir os respectivos objectivos de vida, sendo que, no relvado, seguem como referências os ídolos Zidane (Fábio) e Tévez (Carlitos). "Carlitos talvez", graceja o patrão.
Sensação déjà-vu após Coimbrões
A experiência de domingo foi naturalmente mais mediática, mas não foi a primeira do género vivida por Carlitos na presente temporada. Na quinta jornada da II Divisão (Zona Centro), o Espinho visitou o Coimbrões, onde joga Bruno Fogaça, irmão e sócio de Fábio Espinho, no restaurante. Dessa vez registou-se uma igualdade (1-1), o que também acontece no número que os três envergam na camisola: 10. Perante tudo isto, o nome do restaurante (Espinho 10) era inevitável.
Fábio confia no regresso à liga principal
Fábio Espinho marcou, no domingo, precisamente os dois primeiros golos esta época e agora espera não tirar o pé do acelerador para ajudar o Leixões na luta pela subida. Um objectivo complicado, mas perfeitamente ao alcance, de acordo com o médio-ofensivo. "A Liga Orangina é um campeonato muito difícil. Temos a ambição não só de subir como também de ser campeões nacionais, e acho que temos qualidade e matéria prima para alcançarmos estes objectivos. Temos uma massa associativa que nos apoia em todo o lado e merece essa recompensa no final da época", afirma.
De miúdo roupeiro a goleador nato
Carlitos sentiu cedo a paixão pelos tigres. Enquanto dava os primeiros passos na formação do clube já convivia com o plantel sénior, auxiliando o roupeiro. Em 2005/06, concretizou o sonho de fazer parte da equipa principal, mas seria longe de casa que mostraria a sua veia goleadora, com excelentes registos: 33 golos em 31 jogos no Monsanto (2007/08) e, na época passada, chegou ao Cesarense em Janeiro e fez 14 tentos. "Tem qualidade para jogar, no mínimo, na II Liga", elogia Fábio.
O JOGO
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