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Pedro Seabra: o médio revelação do Mar

Joga no Leixões e é finalista de engenharia: a história de Seabra
No Leixões nem tudo são más notícias. A equipa redige de pulsos amarrados a sua história no campeonato, lida com factos comprometedores, mas está a criar um jogador para seguir com muita atenção no futuro. Pela qualidade e maturidade que exibe no meio-campo e por ser finalista no curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores na FEUP. Falamos de Pedro Seabra, 22 anos, discurso maduro e equilibrado.
Em entrevista ao Maisfutebol, o futuro senhor engenheiro explica a multiplicidade de prazeres na sua vida. «A área de engenharia sempre me fascinou, apesar do desporto ser a minha paixão», explica-nos, numa visita guiada às instalações da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
«Quando tive de optar por uma licenciatura, no 12º ano, hesitei entre engenharia e desporto. Optei pela primeira em função do maior número de oportunidades no mercado de trabalho. Na área de desporto está tudo cheio», explica-nos, certo de ter escolhido o menos rarefeito dos percursos.
«Na engenharia há muitas áreas por explorar e quando terminar o curso tenho várias opções: automação, energia, telecomunicações, por exemplo. Estou a dar-me bem e já sou finalista.»
Os insultos em vez do fato e da gravata
Recatado, discreto, Seabra é a antítese perfeita do estereotipado futebolista moderno. Vive para a família, não apresenta sinais de luxo ridiculamente descabidos, sabe o que quer e demonstra-o sem inibições. A família é a trave-mestra de uma carreira bicéfala. O futebol é a prioridade actual, mas a engenharia está sempre à espreita.
«A minha mãe diz-me muitas vezes: 'já viste, podias ser o senhor engenheiro, andar de fato e gravata. Em vez disso andas no futebol a ser insultado'. É claro que prefiro ser insultado, é isso que me apaixona. Mas no final da carreira de futebolista, imagino-me muito mais como engenheiro do que a exercer qualquer função no futebol.»
Na FEUP saltou do anonimato para se tornar numa das caras mais conhecidas dos labirínticos corredores. E até as bilheteiras do Leixões lucram com isso.
«Contra o F.C. Porto tive mais de 50 amigos meus da universidade a ver o jogo. Quase todos me conhecem na FEUP. É engraçado. Não existem muitos casos como o meu no futebol profissional, mas acho que cada vez existem mais. Eu tive a sorte de ter sempre o apoio dos meus pais.»
Uma existência paralela e duas paixões
Seabra não o esconde: «É preciso abdicar de muita coisa e ter força de vontade» para conciliar duas paixões tão grandes. Anos a fio alternou os calções e as chuteiras com a capa e a batina; os gritos das claques com os cânticos das tunas; os estágios do clube com as longas noites de estudo.
O Leixões já não vence há oito jogos. É difícil trabalhar rodeado de empates e derrotas?
É bastante difícil. A semana de trabalho torna-se mais complicada nestas condições. Temos de arranjar motivação. É importante dar atenção à vertente psicológica também. Mas ainda estamos em condições de dar a volta a esta situação muito má.
A derrota em casa frente ao V. Setúbal foi um choque para o grupo?
Foi. Entrámos bem no jogo, marcámos e, mesmo assim, não conseguimos vencer. Era um jogo importante e falhámos. Foi um golpe duro nas aspirações do Leixões.
Saiu o José Mota e entrou o Fernando Castro Santos. Há muitas diferenças entre a forma de trabalhar de um e de outro?
São diferentes, embora ambos possuam muitas qualidades. Estávamos a trabalhar bem com o José Mota, mas os resultados não estavam a aparecer. Adaptámo-nos bem ao novo técnico, estamos a trabalhar bem e a relação entre o grupo e ele é muito boa.
No primeiro jogo do Castro Santos a equipa reage bem, faz uma exibição convincente contra o F.C. Porto, empata e depois esses bons sinais não tiveram continuidade?
Fizemos um excelente jogo contra o Porto. Talvez por ser a primeira semana do novo técnico. Depois, em Guimarães, as coisas não correram bem e fomos novamente abaixo. O treinador novo chegou numa fase complicada, pois logo a seguir defrontámos o Benfica. O nosso campeonato «recomeçou» em Leiria. Há sete jogos e acredito na salvação.
O Leixões tem sofrido vários golos na parte final dos jogos. A equipa está emocionalmente desequilibrada?
Os resultados não aparecem e criam instabilidade. Não vejo diferenças na qualidade de jogo do Leixões e do Leiria ou do Setúbal. As partidas têm-se decidido em detalhes e nós nesses detalhes não temos estado bem.
Um ano parado antes da boa nova de Mota
Quando terminou o percurso nas camadas jovens esteve um ano sem competir. O que se passou?
Joguei nove anos na formação do Leixões, depois de fazer duas épocas nas escolinhas do Boavista. Tinha o sonho de transitar para o plantel sénior, mas tive vários problemas físicos no meu último ano de júnior. Ainda fiz a pré-época com o Vitor Oliveira (1996/97), treinei dois dias e a lesão muscular voltou a aparecer. Na altura de definir o plantel, o treinador decidiu, muito naturalmente, não contar comigo.
Foi nesse instante que decidiu desistir do futebol?
Não, ainda fui treinar ao Pedras Rubras, da terceira divisão. O plantel tinha 26 jogadores e nem sequer fui aceite. Nunca me disseram directamente que não me queriam, mas percebi que ia ter a vida complicada. O Pedras Rubras treinava como qualquer clube profissional e preferi, por isso, dedicar-me a tempo inteiro à minha vida académica.
Nessa altura colocou em causa o seu próprio valor?
Sim, sem dúvida. Criei muitas expectativas nas camadas jovens, até porque o Leixões é um clube forte na formação. De um momento para o outro cheguei à terceira divisão e percebi que não me queriam. Cheguei a casa, olhei-me ao espelho e questionei a minha valia. Foi então que preferi parar, entregar-me à vida académica e jogar pela FEUP na liga universitária.
E como é que consegue regressar ao Leixões, três anos depois?
No final da época em que não competi, recebi um telefonema de um antigo treinador meu. Expliquei-lhe a minha opção e ele desafiou-me a voltar ao futebol. Convidou-me a ir para o Padroense, que na altura estava nos distritais da AF Porto. Os treinos eram ao final da tarde e lá aceitei. O clube subiu à terceira divisão e joguei lá duas temporadas (2007/08 e 2008/09). Destaquei-me o Leixões lembrou-se de mim.
É uma realidade completamente diferente daquela que conhece hoje em dia?
Na terceira divisão vive-se mais tranquilamente, embora tenhamos de dar tudo nos treinos e nos jogos. A grande diferença é mesmo a remuneração. Trabalha-se como profissional e recebe-se como amador.
E quando surge o convite do Leixões?
Estava há dois dias no Algarve de férias, quando recebi a informação pela boca do presidente do Padroense. Não havia qualquer certeza, ia apenas treinar à experiência na pré-época, mas aceitei. Acabei com as férias e integrei o estágio em Melgaço. Conheci-a muitos jogadores e não estranhei nada.
O José Mota gostou do seu trabalho. Foi ele que o informou da aposta concreta do Leixões em si?
Na terceira semana de treinos, após um jogo com o Beira-Mar, o José Mota chamou-me ao gabinete dele, mandou-me sentar e perguntou-se se queria ser jogador do Leixões. As lágrimas vieram-me aos olhos. Disse-lhe que era o meu sonho.
«Na estreia só estive cinco minutos nervoso»
O regresso à noite de 5 de Dezembro, o F.C. Porto e o Benfica
No dia 5 de Dezembro de 2009 estreou-se na Liga, frente ao Sp. Braga. Lembra-se dessa noite?
Jogar contra o primeiro, transmissão televisiva, no Estádio do Mar... passei a semana toda a pensar na possibilidade de jogar. Entrar em campo e ouvir o hino do Leixões foi um momento arrepiante. Estive dez anos a ver os jogos na bancada e de repente... lá estava eu. Percebi que queria repetir esse instante muitas vezes.
As horas anteriores ao jogo foram duras?
Sabia que tinha boas probabilidades de jogar. Mas só no hotel, pouco tempo antes, soube que ia ser titular. Estava no mesmo quarto do Laranjeiro e disse-lhe isso. Ele tranquilizou-me e disse que tudo me ia correr bem. Os cinco primeiros minutos foram de nervos. Depois foi tudo normal.
Que tipo de jogador é o Seabra?
Sou um jogador sereno. Mesmo nos momentos mais difíceis consigo assumir a responsabilidade. Gosto de ter a bola, apesar da minha idade.
Em três meses defrontou Sp. Braga, F.C. Porto e Benfica. Qual lhe pareceu mais forte?
Contra o Sp. Braga o jogo foi atípico, porque o relvado estava muito pesado. A qualidade do Braga não veio ao de cima. Frente ao F.C. Porto tivemos uma atitude superior àquela que viemos a ter diante do Benfica. A equipa do Jorge Jesus impôs um ritmo bastante mais forte. Está com mais dinâmica e por isso tive mais dificuldades frente a eles do que contra o F.C. Porto.
Qual é o jogador que mais admira na liga nacional?
Aquele que mais admiro e que mais gosto é o Raul Meireles. Pela forma como pensa o jogo e vive o F.C. Porto. É um exemplo.
E a nível internacional?
Adoro três médios: o Andrea Pirlo, do Milan; o Steven Gerrard, do Liverpool, e o Frank Lampard, do Chelsea.
O Seabra tem a ambição de partilhar o balneário com algum deles?
Isso seria sonhar alto de mais. Mas quando estava na terceira divisão nunca pensei estar onde estou hoje.
fonte: site Mais Futebol
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