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Mota entre 40 flexões e risos

Quem tem a felicidade de trabalhar naquilo de que gosta conseguiria colocar-se no papel de José Mota, perceber como e porque permanece fiel a si próprio, no melhor e no pior, e com isso explicar por que se prolongam os treinos do Leixões sem que o plantel dê sinais de cansaço, físico ou psicológico, como sucede no estágio em Melgaço, que hoje termina. Do treinador que na época passada guiou a equipa num percurso sensacional, numa inesperada ameaça à zona europeia da tabela que durou quase até ao fim do campeonato, não se ouvirá hoje um balanço do suor desta semana no Alto Minho. Está ainda a dois dias do fim do castigo, silenciado pela Liga por se ter queixado quando o Leixões foi prejudicado por consecutivos erros de arbitragem. Não se calou e está a pagar o preço. Essa é uma das características que explicam um dos treinadores mais consensuais do primeiro escalão: Mota não se cala. Nos treinos, a voz dele lembra quem ele é, trabalhador, rigoroso, apaixonado, obcecado pela ideia de vencer, e é assim que as equipas que todos os anos tem de inventar - depois de uma década no Paços de Ferreira, vai na segunda época no Leixões - nascem ambiciosas. Mesmo que, como este Leixões a estagiar em Melgaço, estejam limitadas por orçamentos magros e dificuldades ainda maiores, como o impedimento de inscrever reforços por dívidas acumuladas os jogadores que assinam e a seguir desaparecem. Quando o Leixões treina, parece que nada disso existe. Só aquela voz a manter todos despertos para a necessidade de deixar tudo no campo. Quando alguém se distrai, José Mota fecha o rosto, afunda a voz, pára a bola e põe todos no chão: 40 flexões devolvem a concentração num instante, e o treino retoma o rumo que ele quer. Até parece fácil. Certo é que ninguém faz má cara. Sua-se muito, em Melgaço, e esse é o prémio que está fora do alcance de todos os contratos possíveis; o que dá sentido a todo o esforço é chegar ao fim só com aquele cansaço bom, a prova de que se deu tudo. Só Mota resiste à ideia de se render, ainda: até deixar o relvado, ri-se, provoca, continua de volta da bola. Quando sai, dá a ideia de que já leva saudades.

fonte: O JOGO online

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