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"Dá-me gozo ouvir que esta equipa joga à Mota"

José Mota passa em revista a última época do Leixões e deixa as primeiras linhas para o Leixões 2010/11. O treinador leixonense, agora sem a companhia de Vítor Oliveira e depois de ter visto Beto sair para o FC Porto, continua a apostar no trabalho para guindar os leixonenses a mais uma temporada de glória. “Repetir a última época será difícil, mas não impossível”, diz. Numa viagem no tempo, Mota inicia a conversa, lembrando os primeiros meses da aventura leixonense:
- A derrota (1-3) com o Nacional, logo na primeira jornada da Liga, deixou-o preocupado? Refiro-me à atitude da equipa...
- Os resultados da pré-época não tinham sido bons, mas também nunca dou grande valor a isso. Agora, pensei que quando a equipa chegasse à primeira jornada ia estar melhor preparada. Havia grande expectativa e vínhamos de um resultado menos bom, na Taça da Liga, com o Braga. Ainda assim, a equipa teve qualidade de jogo e não merecíamos ter perdido esse jogo. Sofremos dois golos de livre do Bruno Amaro. Foi um jogo atípico. Mas depois veio o grande factor desta equipa, que sempre conseguiu dar a volta nos momentos mais difíceis. A partir daí, a equipa deu uma resposta muito positiva e venceu na Trofa, ao Braga, em Belém, empate com Benfica, vitória no Dragão, Alvalade, uma sequência fantástica...
- O Leixões chegou a ser líder...
- E com todo o mérito. E podíamos ter mantido esse lugar por mais tempo, caso tivéssemos um factor muito importante e que pesa: a sorte. Isso faltou-nos em dois ou três jogos, por exemplo, com a Naval que sofremos o empate já nos descontos. Sabíamos que íamos perder a liderança, mas enquanto estivemos no primeiro lugar desfrutámos. Foi bonito.
- Toda a gente queria vencer o Leixões...
- Sim, é normal. O Leixões ganhou o respeito dos adversários e de uma certa forma houve até gente a tentar copiar a forma de jogar do Leixões. O factor surpresa também se começou a diluir e sentimos mais dificuldades com adversários da nossa dimensão.
- Depois de perder o Wesley, não teve argumentos para jogar com o modelo que vinha a apostar até esse momento...
- O que aconteceu connosco é a prova evidente que treinador muitas vezes tem de se adaptar ao plantel que tem. A minha primeira ideia provavelmente era outra, mas tive de abdicar a partir do momento em que o Roberto se lesionou, na pré-época, e não tinha mais alternativas para o lugar. Tivemos de passar para outro modelo e ir de encontro às características dos jogadores. Tinha um conhecimento forte do Wesley e percebi que aquela seria a melhor solução para ele e para a equipa.
- Depois do primeiro jogo, com o Nacional, o plantel ainda foi retocado e as contratações foram cirúrgicas...
- Sim, o próprio Wesley tinha chegado apenas uma semana antes do campeonato. Depois, vieram o Roberto Sousa, Vasco Fernandes, Laranjeiro, e, a partir daí, também houve um maior conhecimento do treinador sobre real valor da equipa, que se mostrou forte em termos de bloco defensivo. Durante muitas jornadas, fomos das melhores defesas. Isso disse-me que tivemos uma boa estrutura defensiva em termos de meio-campo defensivo e defesa.Os jogadores foram solidários e o modelo funcionou. Penso que esta época toda a gente se valorizou no Leixões. Diogo Valente e Hugo Morais fizeram excelente épocas, assim como o Braga, que vinha da 2.ª Divisão.
- Porque se lamentou tanto na reabertura do mercado, em Dezembro?
- Porque tenho experiência de outras épocas e sabia o que ia acontecer. Estamos a falar de jogadores que pouca gente conhece, que chegam a Janeiro e são assediados, contactados, e criam expectativas elevadas. O problema é esse, pois sabíamos que muitas das expectativas não se iriam concretizar, por vários factores. Essa fase perturbou e retirou concentração à equipa, que vinha a fazer um excelente campeonato.
- O treinador não teve convites?
- Gosto da estabilidade e de dar continuidade aos projectos. Surgiram situações para o estrangeiro, mas nunca dei grande interesse, até porque propostas concretas não existiram. Apenas abordagens e isso tem pouco significado.
- Também saiu mais valorizado no final da última época...
- No futebol português, valorizam muito as pessoas quando saem dos clubes. Eu valorizo exactamente de outra forma. A maior valorização que posso ter é ser convidado ano após ano a ficar nos clubes. Comecei no futebol aos 11 anos, já tenho 34 anos desta actividade, mas nunca estive um dia no desemprego, ou seja, ano após ano dia após dia as pessoas convidam-me, quer como jogador, quer como treinador. Não sei o que é estar no desemprego, não sei o que é estar semana após semana com aquela ansiedade, e isso dá-me cada vez mais confiança e alegria para o trabalho.
- Mas não tem ambições?
- Costumo dizer que as ambições é olhar para aquilo que as equipas fazem, a forma como jogam. Há treinadores que realmente deixam uma marca. No Paços de Ferreira e Leixões já deixei a minha marca. Como? Em muitos jogos ouvi dizer que esta equipa joga à José Mota. Isso dá-me um gozo, a identidade e as pessoas perceberem isso. Se repararem, não há muitos casos assim no futebol português. Isto é dito quase de uma forma simples mas que tem grande significado.
- Não quer deixar marcas em clubes maiores?
- Claro que sim. Mas isso naturalmente pode acontecer. Já tive em outros anos contactos com outros clubes, com maior dimensão, caso do Guimarães e noutras alturas o Marítimo. Se calhar, podia acontecer com maior facilidade se fosse pessoa que tivesse constantemente no desemprego. Se tivesse era muito mais fácil, mas, graças a Deus, nunca tive esse problema. Agora, não me ofereço a ninguém. A minha personalidade faz-me pensar que o treinador de futebol tem de ter uma estabilidade, a nível familiar e financeiro, para não ficar refém. Nunca andei a mendigar, portanto, naturalmente vou seguir o meu rumo.
- Antes do final da época, renovou por uma época. Foi uma prova de confiança da SAD?
- Chegámos a acordo, porque ambos estávamos satisfeitos. Se fosse outro, podia pedir para esperar e ver o que aparecia. Mas não quis esperar, pois não faz parte da minha forma de ser. Gosto da estabilidade, pois considero isso importantíssimo para haver resultados.
“Beto pode sertitular no FC Porto”
- Já perdeu Beto para o FC Porto. Está preparado para mais saídas?
- Tenho de estar preparado para tudo. Também tive de estar preparado para a saída do Jorge Gonçalves e do Wesley. Vamos ter de encontrar soluções.
- Mas o Beto foi um dos indiscutíveis na equipa e até foi chamado à Selecção...
- O ter sido chamado à Selecção quando ainda estava no Leixões é que também deve ser realçado, pois todos sabemos que não é fácil. O Beto é um excelente guarda-redes, que gosta de trabalhar e ainda pode evoluir. Mais um ano no Leixões não lhe fazia mal, mas há oportunidades que não se podem deixar fugir e acredito que ele vai-se dar bem. Tem todas as condições para lutar pela titularidade no FC Porto.
- E tem soluções se o Bruno China sair?
- Se isso acontecer, logo se verá. O China é mais um dos nossos valores seguros. Acredito que no futuro também possa normalmente ser chamado à Selecção.
- Quais são os objectivos traçados para a nova época?
- Temos uma boa base e acredito que vamos manter um bom grupo. Temos uma imagem a defender e o clube tem pergaminhos para honrar. Repetir esta época será difícil, mas não impossível. O sexto lugar foi só a segunda melhor classificação de sempre do clube no principal escalão, mas temos de ter ambição e jogar sempre para ganhar. É isso que iremos fazer.
- Fábio Espinho (ex-Espinho) e Nelson (ex-Freamunde) são os únicos reforços oficializados. O que nos pode dizer deles?
- Penso que vêem para o clube para potenciar as suas capacidades. São mais dois elementos de trabalho. Conheço-os bem, mas temos que lhes dar algum tempo para depois retirar o que de melhor têm. Espero que se adaptem bem e nos ajudem.
“Só posso desejar as maiores felicidades ao Vítor Oliveira”
- Que sentimento lhe causa a saída inesperada de Vítor Oliveira do cargo de director geral do futebol do Leixões?
- Não me devo alongar sobre o assunto. Conheço bem o Vítor Oliveira e já há muito tempo que tinha conhecimento da sua vontade de voltar a treinar. Tomou uma opção que deve ser respeitada e só lhe posso desejar as maiores felicidades. Volto a frisar que me sinto honrado por ter sido o escolhido do Vítor Oliveira para treinar o Leixões.
- Mas certamente estava a contar que a estrutura da época passada, que tão bons frutos deu, se mantivesse para esta temporada. Não causa mossa esta saída?
- São situações do futebol que devemos estar preparados para elas. O presidente e a administração vão, concerteza, descobrir uma forma de preencher esta lacuna. O Vítor Oliveira foi um elemento importante na época passada, mas agora teremos de continuar o bom trabalho sem a sua presença.
- Quando renovou por mais uma época, estava a contar com a continuidade de Vítor Oliveira…
- Sim, isso é verdade, até porque quando acertei a minha continuidade estávamos em Fevereiro, ainda com o campeonato a decorrer. Mas no futebol as coisas podem mudar de um dia para o outro e temos de saber viver com isso e reagir. Quem anda neste meio, tem de estar preparado para todas as eventualidades.
- A planificação da nova época não pode ter ficado algo comprometida?
- Não. Estamos a estudar várias situações pendentes, no sentido de encontrar o melhor para o Leixões. Não podemos ser precipitados nas escolhas de novos elementos, pois, felizmente, já temos uma boa base. Temos um perfil traçado do jogador que queremos e estamos a analisar vários cenários. Dou prioridade a jogadores agressivos, no bom sentido, e com ambição de vencer.
fonte: site MH
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